não saio desta vida sem escrever um último poema,
deste pecado estou absorta,
ainda que nas praias que tenha frequentado
não tenha mergulhado
e o que é uma ironia,
como tantas outras,
pois de cabeça entro em tudo.
vejo tudo o que é profundo,
me reflito,
esses poemas se fossem lançados ao mar
teriam maior destino...
não que seja esse poema um discurso
existencial dos profundos,
mas eu merecia o buraco
cavado com as unhas
em sua mais perfeita natureza,
eu merecia um poema que não reivindicasse
nada além do desejo
de ser um pouco mais de palavras
escavadas,
merecia um poeta que fosse além
do que o Mediterrâneo, Pacífico, Índico
e do próprio mistério
porque já estou escassa daquilo o que além
do mar exista um infinito.