domingo, 7 de janeiro de 2024

Os mares

não saio desta vida sem escrever um último poema,

deste pecado estou absorta,

ainda que nas praias que tenha frequentado

não tenha mergulhado

e o que é uma ironia,

como tantas outras,

pois de cabeça entro em tudo. 

vejo tudo o que é profundo,

me reflito,

esses poemas se fossem lançados ao mar

teriam maior destino...

não que seja esse poema um discurso

existencial dos profundos,

mas eu merecia o buraco

cavado com as unhas 

em sua mais perfeita natureza,

eu merecia um poema que não reivindicasse

nada além do desejo

de ser um pouco mais de palavras

escavadas, 

merecia um poeta que fosse além

do que o Mediterrâneo, Pacífico, Índico 

e do próprio mistério

porque já estou escassa daquilo o que além 

do mar exista um infinito.