quarta-feira, 26 de abril de 2017

brisa

já sentiu o cheiro
da tarde brotando?

o tranco do motor
no trânsito o céu
num flash se vê
o cardume lânguido
dos pássaros 
afinde achar
lá longe
uma florinha fincada
no asfalto
suja de lama
no vão do salto

as vezes a gente expressa
e não diz é que desacredita,
se palavra toda solta
fosse ao menos revolução

no mais,
o cachorrinho caminha
sorriso língua nervosa
o chão é perigoso
as quedas,
só olhar pra frente,
tem gente,
e me olha como se fosse bicho,
o cão

A gente nem olha,
desvia,
sente sente mas vê,
falta sentido

ah é que bate uma nostalgia
imagem de infância
segurar nuvem
na mão,
e devagar a roupa bate
no corpo,
de tão forte que é o vento
gostoso vindo depressa

sabor de deserto na boca
olhos e água mais sal do Brasil,
desacredita,
tem cheiro pra todo lado
vindo de fora!

não quero falar
como se a gente fosse tudo
mas tudo não passa
de um pouco da gente,
e segue tão cabisbaixo
só vê as durezas do chão,
ali se vê mais pedra,
que pedra!

reluz no ponto
mais indecente
lá da frente,
aponta
cheiro de fim.

É lá que a estrela
tá gemendo de gosto da noite,
muda direção a estação,
mal olha pra cá
gingado as flores
brotando
muita arte das cores,
quanta pintura!

acho que o céu
piscou pra mim